Educar o imaginário é mais do que oferecer às crianças e aos jovens o contato com belas histórias, poemas e símbolos. É conduzi-los a uma percepção mais profunda da vida, despertando neles o sentido do belo, do verdadeiro e do bem. O imaginário bem formado não serve apenas para sonhar, mas para ajudar o ser humano a compreender a própria existência, suas dores, suas alegrias e seu destino. É nesse horizonte que podemos refletir sobre o poema Consoada, de Manuel Bandeira, que, embora simples na linguagem, carrega uma densidade simbólica que toca diretamente a alma humana.
No poema, o eu lírico expressa um desejo singular: não ter uma morte trágica, inesperada ou violenta, mas uma morte serena, quase como a visita de um amigo esperado. Ele diz: “Quando a Indesejada das gentes chegar…”, e aqui já há uma sutileza: a morte não vem como inimiga, mas como algo natural, quase acolhedor. Essa disposição revela uma alma que soube, ao longo da vida, contemplar o essencial — aquilo que permanece. É exatamente isso que a educação do imaginário faz: ensina a alma a não se perder nas superficialidades, mas a encontrar sentido até nos limites da existência.
Bandeira nos convida a pensar na morte não como um fim desesperador, mas como uma passagem para quem viveu de forma plena, simples e verdadeira. A imagem que ele constrói — da morte que chega “como quem se despede de um amigo antigo” — é profundamente educativa. Quem é capaz de imaginar a própria morte com essa serenidade, certamente aprendeu a viver bem. E aqui entra a função mais elevada do imaginário: reconciliar-nos com a realidade, mesmo com aquilo que naturalmente nos assusta.
Quando o poeta diz que espera ser levado “sem grandes tristezas”, percebemos um coração que viveu em harmonia, que aceitou os limites da vida e soube extrair dela o que há de mais nobre. Isso é fruto de uma imaginação cultivada com beleza, poesia, contemplação e sentido. O imaginário educado não foge da dor, mas aprende a enxergar nela uma parte do mistério da existência, capaz de amadurecer a alma e dar-lhe profundidade.
Refletir sobre Consoada é entender que a educação do imaginário não é um luxo ou um adorno, mas uma necessidade vital. É ela que prepara o ser humano para atravessar a vida com mais sabedoria e enfrentar, até mesmo, a própria morte com paz. Ao formar o imaginário, formamos também uma visão mais elevada da realidade, onde a beleza, a finitude e o mistério da vida não são ameaças, mas convites a viver de forma mais plena, mais humana e, acima de tudo, mais verdadeira.
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